Segue trecho do Bauman em sua crítica à Modernidade no livro Modernidade e Ambivalência (p. 23):
"Assim, a produção de refugo (e, conseqüentemente, a preocupação do que fazer com ele) é tão moderna quanto a classificação e a ordenação. As ervas daninhas são o refugo da jardinagem, ruas feias o refugo do planejamento urbano, a dissidência o refugo da unidade ideológica, a heresia o refugo da ortodoxia, a intrusão o refugo da construção do Estado-Nação. São refugos por que desafiam a classificação e a arrumação da grade. São a mistura desautorizada de categorias que não devem se misturar (...) Se a modernidade diz respeito à produção da ordem, então a ambivalência é o refugo da modernidade"
Bauman trabalha fortemente com a idéia da lógica da ordem como sentido da modernidade. Particularmente Estado e a ciência seriam os sujeitos privilegiados desta ordem em seus esforços de impor-se ao fluxo da vida vivida, do cotidiano, dos costumes, das crenças.
Para ele, esta lógica moderna beira a esquisofrenia uma vez que a ordenação do inordenável (a vida) gera sistemas cada vez mais sofisticadamente classificatórios, rígidos e metafísicos - e a vida não parece ser assim.
Deste modo a ordem é, sempre, geradora de mais desordem, e assim indefinidamente. Talvez seja esta a única regra estável:a da instabilidade da ordem.
Perguntas minhas para mim mesmo:
- como fica, então, a proposição de metodologias científicas e o fazer técnico e de sistematização? Há alternativa para eles ou serão eternos produtores desta angústia pela ordem que só gera incompletude e novas demandas de organização?
- e a escola, institucionalização do Estado e ciência modernos? seria o supra-sumo da esquisofrenia pela ordem? A realidade de caos, insatisfação, insulamento e anencefalia da escola seria uma das conseqüências extremas do projeto moderno?
- a escola é um jardim de Bauman, sem flores e só com ervas daninhas? Não é por aí que passam o discurso de muitos educadores? Teria sobrado do jardim somente ervas daninhas e as enxadas enferrujadas?
terça-feira, 18 de março de 2008
O Jardim de Bauman
Postado por Edson Martins às 8:56 AM
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