domingo, 4 de maio de 2008

Senhora dos Afogados - A Trama

Neste último sábado (04/05) fui no Sesc Vila Nova assistir ao espetáculo “Senhora dos Afogados”, texto de Nelson Rodrigues, montagem do grupo Macunaíma e direção de Antunes Filho.
Como de costume no caso deste trio, um espetáculo competente. Cenografia, figurino, direção e em particular a técnica dos atores deixam o público realmente satisfeito e com a sensação de que “valeu à pena”, de que ninguém saiu do espetáculo do mesmo jeito que entrou.
Existe uma muita coisa a respeito deste espetáculo. No final dos anos 40, quando lançado por Nelson Rodrigues, escandalizou público e crítica, custando depois décadas de censura.
E por que a censura?
O espetáculo denuncia, expõe e ridiculariza o mais tradicional modelo familiar-burguês da época: o da família “de nome”, com suas posses, seus títulos e seus valores inexpugnáveis.
A família em questão chama-se Drummond. Vive em uma região portuária...sempre tendo à frente o mar. Esta família aristocrática digna-se de há 300 anos não cometer um adultério sequer, de zelar pelos valores, por submeter os desejos.
Isso não é sinal de paz familiar ou ao menos sanidade familiar, ao contrário. Moema, a protagonista, é uma das filhas do casal Misael e Eduarda e tem um desejo definitivo: o pai.
Em nome desse desejo traça um plano e destitui de humanidade todos os personagens que a cercam, usando-os ou matando-os para que sobrem somente ela e seu objeto de desejo.
Para isso elimina todas as mulheres da casa, afogando as outras duas irmãs (as preferidas do pai), a avó esclerosada (morta por inanição) e mãe, morta pelo próprio pai, deixada morta na praia, sangrando, com as duas mãos cortadas.
Essa vingança do pai é resposta ao adultério de Eduarda, que o traiu com o noivo de Moema. Na verdade Eduarda e Misael são vítimas de um plano de Moema que só se torna noiva para atrair o noivo-marinheiro para casa parq eue ele seduza a própria mãe. Ele por sua vez, tinha seus motivos: era filho ilegítimo de Misael com uma prostituta que ele mesmo havia matado há 19 anos, no dia de seu casamento com Eduarda.
De trama em trama Moema vai eliminando a todos e como resultado tem todos eliminados da velha e tradicional família: sobrando apenas ela e o pai, embora este na condição de cadáver, o último a morrer, do coração, ao perceber que as mãos de Moema são exatamente idênticas às de Eduarda, que havia mutilado, justamente por ser esta a parte do corpo, para ele, mais autônoma em qualquer ato de adultério.

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