quinta-feira, 20 de março de 2008

Dilema pós-Moderno para Discutir a pré-História

Não está fácil começar a escrever o fascículo 1 da revista História sem Segredos.
Este capítulo trata das antigas civilizações e tem um destaque para a chamada pré-História. De imediato, preciso rever o conceito, coisa que a historiografgia já faz há algum tempo, embora muitos dos livros didáticos e exames vestibulares continuem utilizando o conceito.
O problema é que utilizar o conceito de pré-História significa recorrer aos princípios evolucionistas e acreditar que a humanidade tem um sentido definido, um caminho destinado, e que, por isso, sociedades podem ser mais ou menos evoluídas de acordo com o modo como respondem ao progresso, metafífico.
No momento especulo a possibilidade de tomar como objetivo do tema pré-História justamente o inverso: a discussão de que várias humanidades são possíveis, várias sociabilidades sçao possíveis, várias temporalidades e espacialidades são possíveis. E que composições são inevitáveis.
Este pode ser, logo no primeiro capítulo, um tom interessante da coleção, com uma forte pegada contra-hegemônica: veremos.

terça-feira, 18 de março de 2008

O Jardim de Bauman

Segue trecho do Bauman em sua crítica à Modernidade no livro Modernidade e Ambivalência (p. 23):

"Assim, a produção de refugo (e, conseqüentemente, a preocupação do que fazer com ele) é tão moderna quanto a classificação e a ordenação. As ervas daninhas são o refugo da jardinagem, ruas feias o refugo do planejamento urbano, a dissidência o refugo da unidade ideológica, a heresia o refugo da ortodoxia, a intrusão o refugo da construção do Estado-Nação. São refugos por que desafiam a classificação e a arrumação da grade. São a mistura desautorizada de categorias que não devem se misturar (...) Se a modernidade diz respeito à produção da ordem, então a ambivalência é o refugo da modernidade"


Bauman trabalha fortemente com a idéia da lógica da ordem como sentido da modernidade. Particularmente Estado e a ciência seriam os sujeitos privilegiados desta ordem em seus esforços de impor-se ao fluxo da vida vivida, do cotidiano, dos costumes, das crenças.
Para ele, esta lógica moderna beira a esquisofrenia uma vez que a ordenação do inordenável (a vida) gera sistemas cada vez mais sofisticadamente classificatórios, rígidos e metafísicos - e a vida não parece ser assim.
Deste modo a ordem é, sempre, geradora de mais desordem, e assim indefinidamente. Talvez seja esta a única regra estável:a da instabilidade da ordem.
Perguntas minhas para mim mesmo:
- como fica, então, a proposição de metodologias científicas e o fazer técnico e de sistematização? Há alternativa para eles ou serão eternos produtores desta angústia pela ordem que só gera incompletude e novas demandas de organização?
- e a escola, institucionalização do Estado e ciência modernos? seria o supra-sumo da esquisofrenia pela ordem? A realidade de caos, insatisfação, insulamento e anencefalia da escola seria uma das conseqüências extremas do projeto moderno?
- a escola é um jardim de Bauman, sem flores e só com ervas daninhas? Não é por aí que passam o discurso de muitos educadores? Teria sobrado do jardim somente ervas daninhas e as enxadas enferrujadas?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Lendo o Bauman

Só tinha feito leituras displicentes dos textos do Bauman. Neste final de semana, por indicação do Profº Luís Eduardo Wanderley em seu curso Teoria Sociológica, comecei uma leitura mais atenta do livro Modernidade e Ambivalência e gostei do tom provocativo. Sai discussão inicial do caráter ontologicamente contraditório da Modernidade me interessa.
Esta relação tensa entre estabelecer a ordem e saber dessa impossibilidade pelos fluxos e dinâmicas da vida vivida é muito interessante e pode (vamos ver) dar outras luzes para discussão da pós-modernidade. Vou seguir lendo.

BAUMAN, Z. – Modernidade e Ambivalência. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1999.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Silêncios

O Silêncio Continua
A respeito da indclusão da História Indígena e Afro-Brasileira nas escolas, o silêncio continua. Parece que a mídia gostou mais do que os especialistas e o MEC. Aliás, do que li nos jornais e ouvi nas rádios, só percebi falas técnicas ou de gestão. Nada das comunidades. Nada dos negros. Nada dos índios.
De qualquer forma, os temas entrarão como conteúdos obrigatórios e não disciplinas. Pode ser interessante ler um esclarecimento que retirei do Overmundo (clique no título para acessar).

E minha opinião?
É evidente que a disciplinarização da escola é instrumento do desenvolvimento da lógica seletiva, individualista, instrumental, industrial e produtivista. É evidente que a compartimentalização da escola em disciplinas traz consigo todo este peso ideológico e suas conseqüências.
Também é evidente que os currículos estão abolindo as disciplinas ou as flexibilizando. Igualmente evidente é que o tema transversal pluralidade cultural se presta a valorizar as diferencialidades.
Basicamente foram estes argumentos evidentes que ouvi dos especialistas e gestores, particularmente de Guiomar Namo de Melo, na CBN.
No entanto não acredito que tais argumentos sejam suficientes. É evidente que quando o presidente Lula assina uma lei como essa está apostando em uma posição política, em uma afirmação, em uma relevância, evidentemente negada pelo discurso técnico.
A ação política (e aí o puxão de orelha no presidente e especialmente no MEC)tem, no entanto que ter ação de gestão, ou seja, tem que ser efetivamente acompanhada e implementada, seja enquanto conteúdo, seja enquanto tema, seja enquanto disciplina. Tem que se transformar em princípio e política pública de educação.
A escola banca, masculina e heterossexual precisa ter seu espaço hegemônico disputado, afrontado, refeito, repensado. E aqui entra o puxão de orelha nos discursos técnicos: o que, efetivamente, tem sido oferecido para que o reconhecimento da tradição negra e indígena brasileira seja efetivado como fato relevante, e não como algo exótico, periférico, ocasional, burocrático?

quinta-feira, 13 de março de 2008

O Silêncio do MEC

É muito interessante que o site do MEC não tenha feito nenhuma referência à lei, assinada pelo presidente Lula em 11/03/08, que determina a obrigatoriedade do ensino da história indígena e afro-brasileira. Será que o MEC não concorda com esta nova determinação?

Segue abaixo, na íntegra, um informe lançado por estes dias (clique no título para acessar na fonte):



Ensino de história e cultura afro-brasileiras é obrigatório na educação básica

Todas as escolas públicas e particulares da educação básica devem ensinar aos alunos conteúdos relacionados à história e à cultura afro-brasileiras. Desde o início da vigência da Lei nº 10.639, em 2003, a temática afro-brasileira se tornou obrigatória nos currículos do ensino fundamental e médio.

Apesar disso, a maioria dos alunos ainda não conhece a contribuição histórico-social dos descendentes de africanos ao país. “A lei não foi implementada de maneira a abarcar todos os alunos e professores. O que há são ações pontuais de iniciativa de movimentos negros, do MEC ou de universidades federais”, informa a coordenadora-geral de diversidade e inclusão social da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), Leonor de Araújo.

Para mapear e ampliar as iniciativas de implementação da lei, a Secad, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), realizou uma oficina esta semana, em Brasília. “Queremos traçar estratégias para criar políticas comuns a fim de que a lei alcance a todos”, afirma Leonor.

A Lei nº 10.639/2003 acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dois artigos: 26-A e 79-B. O primeiro estabelece o ensino sobre cultura e história afro-brasileiras e especifica que o ensino deve privilegiar o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. O mesmo artigo ainda determina que tais conteúdos devem ser ministrados dentro do currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística, literatura e história brasileiras. Já o artigo 79-B inclui no calendário escolar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

Segundo Leonor, a implementação da lei em todos os estabelecimentos de ensino fundamental e médio só será possível a partir da formação de professores e da oferta de material didático específico. As estratégias necessárias à implementação da lei estarão descritas num documento oficial da oficina que deverá ficar pronto até o dia 20. O documento será encaminhado ao ministro da Educação e às redes de ensino.

Maria Clara Machado

quarta-feira, 12 de março de 2008

História Indígena e Afro-Brasileira nas Escolas

Ouvi rapidamente no rádio que o presidente Lula sancionou uma lei que determina a inclusão de conteúdos de História Indígena e Afro-Brasileira. Ainda não li a lei, que sai hoje no Diário Oficial.
De imediato, algumas perguntas:
- trata-se de uma nova disciplina ou da inclusão de conteúdos nas disciplinas já existentes?
- vale a partir de quando?
- trata-se de uma história indígena e afro-brasileira escrita por inígenas e afro-brasileiros ou por brancos?
- qual a formação necessária? Será preciso de formação específica para os professores?
- e os indígenas e afrodescentes? Como se posicionam diante disso?

terça-feira, 11 de março de 2008

Gestando o Capítulo 1

No momento estou na escrita do trabalho final da disciplina Currículo, Conhecimento e Cultura, ministrada pelo Profº Alípio Casalli no Programa de Pós-Graduação em Currículo da PUC-SP no segundo semestre de 2007.
Na disciplina discutimos basicamente quatro abordagens da cultura, não necessariamente ligadas à educação. Os autores estudados foram Clifford Geertz, Álvaro Vieira Pinto, Peter McLaren e Stuart Hall.
Eu quero aproveitar o trabalho para esboçar o capítulo 1 de minha tese, onde pretendo fazer um inventário das teorias da cultura e sua aplicação aos estudos do currículo.
A impressão que tenho de início é a do desgaste do termo cultura. A verdade é que a própria discussão deste desgaste já está um pouco desgastada, mas acredito que precisa de insistência, especialmente no campo da educação e do currículo, que não tem muitas teorias próprias a respeito da cultura. O termo cultura parece ter migrado para o senso comum, terreno perigoso quando tentamos fazer abordagens conceituais.
Uma mostra disso é a escolha dos quatro autores do curso ministrado pelo Profº Alípio: dos quatro, apenas um (Peter McLaren) faz uma discussão focada diretamente na educação, sendo que, para os outros, são necessárias adaptações conceituais.
É importante fazer estudos das possibilidades destas adaptações conceituais. É provável que eu insista nisso.