quinta-feira, 29 de junho de 2006

O Caos Urbano é uma Falácia?

No dia de hoje, assisti à palestra de José Guilherme C. Magnani no Cenpec. Magnani (professor de Antropologia Urbana na FFLCH/USP) tinha como objetivo a discussão do significado de uma Antropologia Urbana e apresentar algumas possibilidades de análise.
Sua fala valeu especialmente pela apresentação do método etnográfico e sua aplicabilidade em um ambiente urbano.
Em brevíssimas palavras ele definine 4 categorias de análise da ação cultural em ambiente urbano: pedaço (espaço de compartilhamento simbólico de iguais), mancha (espaço físico onde diferentes execitam seu viver simbólico), trajeto (circuito entre pedaços ou manchas, com a possibilidade de enfrentamento de diferentes) e pórtico (pontos físicos de parada nos trajetos, onde eventualmente diferentes se encontram).
Vale pensar sobre estas categorias como possibilidades de sistematização e organização para o chamado "caos urbano", idéia duramente atacada por Magnani. Para ele, o que chamamos de caos, na verdade é uma resposta pronta para nossa perplexidade diante de um fenômeno cada vez mais rico e estruturado, embora as evidências apontem para o contrário.
Muito interessante isso tudo, ao menos como ponto de partida para a discussão: afinal...a urbanidade está se tornando definitivamente caótica ou ordenada? A questão que isso provoca então é mais interessante ainda: a pós-modernidade efetivamente existe ou é um simulacro de modernidade dissimulada e fortalecida?

Em tempo: fui aluno de Magnani em minha graduação em Ciências Sociais na USP. Ele participou de minha banca de qualificação (só eu sei...as esquinas por que passei....)

domingo, 25 de junho de 2006

A Decadência Econômica das Grandes Metrópoles

Saiu hoje (25/06/06) no jornal O Estado de São Paulo uma matéria mostrando como as grandes metrópoles estão se tornando economicamente decadentes, com médias de crescimento consideravelmente inferiores às de cidades médias, principalmente.
É mais uma questão que nos leva a refletir sobre o fenômeno das grandes cidades, sua viabilidade e adequação a padrões convencionais de desenvolvimento.
As megacidades estão se transformando em monstros urbanos, sobre os quais não se consegue refletir, muito menos planejar as possibilidades futuras. Mais ágeis que qualquer tipo de reflexão, estes aglomerados humanos vão multiplicando questões à revelia de possibilidades controladoras ou instituídas.
Para um mundo capitalista como nosso, esta questão econômica torna-se terrível e exige, sob mais este foco, que se pense sobre o que são as megacidades. De imediato, uma certeza: qualquer, absolutamente qualquer possibilidades de açã ou explicação baseada em modelos convencionais ou já existentes está fadada ao fracasso. A magalourbanidade é um fenômeno único na história humana.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Articulação e Ação Política

Hoje tivemos uma reunião muito interessante no Cenpec. Foi mais uma tentativa de o eixo de articulação da área Educação e Comunidade conseguir sistematizar e conceituar minimamente suas práticas.
Foi muito interessante como as visões diferem e como, no debate, começam a surgir composições. Também é interessante perceber como o entendimento a respeito do tema se transforma.
Há 1 ano e meio, a área produziu um documento, fruto de discussões a respeito e deu à idéia de articulação um tom de apoio às ações técnicas.
Na semana passada, em uma discussão geral do Cenpec a respeito do tema, nas discussões de hoje percebemos o quanto esta definição não dá o tom político da ação de articulação. Por mais que as ações de uma ONG com o perfil do Cenpec tenham perfil eminentemente técnico, é evidente que suas escolhas (técnicas) no limite tem sentido político (no sentido de pautar a ação pública, de interferir na agenda social, de disputar espaços de idéias...).
Muito interessante que se retome uma discussão tão antiga: a da não imparcialidade da ação técnica, retomando o fazer e o pensar-sobre-o-fazer como fazer político. Muito importante também pois isso torna as ações tão comuns no terceiro setor (implantação e desenvolvimento de projetos, consultoria e assessoria, auditora...) retornáveis ao campo da intencionalidade social, abandonando seu pretenso hermetismo.

domingo, 18 de junho de 2006

Um site poético

Tive contato com o site erratica (clique no título desta mansagem para acessar) e fiquei muito satisfeito. Não sei de quem é a autoria e exatamente o que pretende. Mas posso adiantar que os resultados são excelentes.
No site temos no momento 57 poemas inscritos das mais variadas formas (há trechos de obras, video, poemas escritos, sons etc.), quase tudo de primeira qualidade.
Ao lado de cada link temos o poeta e seus links, permitindo que a ação cultural se dissemine de mais de uma forma.
Em tempos de overdoses informacionais o retorno à qualidade e à ética é vital (aliás, neste domingo o Luís Nassif trata exatamente disso)...tenho certeza que o erratica sem nenhum apelo normativo, sem nenhum chamamento, sem nenhum principismo faz isso de forma muito interessante.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Ação política com grupos e ONGs

Retomemos o caso do MLST, agora sob outra ótica. Como indiquei na postagem anterior, a ação de parte da sociedade, imprensa e governo têm sido das mais sectárias e republicanas (no mau sentido).
E quanto aos agentes "simpáticos" aos grupos que represnetam causas sociais ou demais entidades, como ONGs, por exemplo? Como têm agido?
Tenho observado muitas vezes uma atitude de perigosa adoração nada criteriosa. É como se qualquer grupo valesse à pena, qualquer causa de ação social merecesse ser defendida, qualquer ato de grupos sociais merecesse complacência.
Não cabe à priori uma atitude de Estado no sentido de prejulgamento destes grupos, bem como de instituições de maior poder de ação ou articulação. Instituições (o Estado entre elas) com este poder devem perceber-se enquanto públicas, sendo o sentido desta "publicidade" vista como algo abrangente dentro de um contexto social. São as instituições que têm condição de articular macro-políticas, ações de reconhecida amplitude.
A ação destas instituições, portanto, devem ser profundamente éticas. Estimular a diversidade de atores sociais em concomitância com a perspectiva de colocá-los em debate onde o pluralismo e/ou o consenso devem se constituir enquanto estratégias.
Apoior aprioristicamente uma determinada organização social somente pelo fato de ela ser "popular" não faz mais sentido.
Fazia em tempos republicanos, mas hoje, onde fronteiras confundem-se com fluxos não traz ganhos sociais mais.

domingo, 11 de junho de 2006

O MSLT e nossa fragilidade pós-moderna

No dia 06/06/06 o MLST (Movimento de LIbertação dos Trabalhadores Sem-Terra) promoveu um ato de posicionamento político contra a lentidão dos congressistas na aprovação de leis e recursos destinados à reforma agrária.
O ato culminou com uma ocupação de um dos salões da Câmara no qual muitas instalações foram depredadas, com seguranças e manifestantes feridos. Dezenas de participantes foram detidos.
A reação da imprensa em geral foi de absoluta repulsa ao ato, discutindo a ação e não as reivindicações apresentadas. O próprio presidente Lula condenou a ação.
Como se não bastasse, alguns veículos procuraram condenar o governo federal por ter aumentado crescentemente os recursos destinados a esta entidade.
Toda esta situação nos serve, entre outras coisas, para nos levar a uma reflexão sobre o quanto nossa sociedade ainda procura reconhecer-se no futuro como complexa e plural e, em situações-limite (se é que esta situação pode ser considerada limítrofe) acaba por recorrer a velhos argumentos moralistas alocados na modernidade republicana.
O pluralismo e potencialização de grupos e princípios com a facilitação dos recursos da comunicação faz com que o previsível, o desejável socialmente falando seja algo cada vez mais inverossímil e utópico.
O MSLT é um grupo com uma proposta bastante definida e que possui ideais e procedimentos. A questão que se coloca é a sefuinte: como o Estado dialoga com ele? Como a sociedade dialoga com ele? Como a classe política dialoga com ele? Como os veículos de comunicação dialogam com ele?
A complexidade da configuração social que teremos cada vez mais nos obriga a criarmos mecanismos de participação, comunicação e viabilização de uma discussão ética de projetos e perspectivas cada vez maior e nenhum dos agentes acima colocados têm feito muita coisa por isso.
Sendo assim, ou a pós-modernidade em que vivemos (vivemos?) é assumida e faz nossa sociedade criar mecanmismos éticos ou as alternativas sectárias (como as da imprensa moralista ou do MSLT fundamentalista) serão cada vez mais utilizadas.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

O "Enigma Lula"

Na Folha de S.Paulo do último domingo (04/06/06), Gilberto Dimenstein trata do que chama de "enigma Lula" (clique no título desta postagem para acessar a matéria). A questão-base do enigma é a seguinte: como pode um homem público ser tão atacado pela mídia e parte da classe política por um ano inteiro (as denúncias de Roberto Jefferson contra os "mensaleiros" completaram 1 ano ontem, dia 05/06/06) e não só permanecer como líder nas pesquisasa eleitorais, como ampliar esta ventagem, aumentando consideravelmente as possibilidades de, inclusive, se eleger no 1º turno?
Dimenstein toma como base uma pesquisa de Ricardo Paes de Barros. O economista apresenta cálculos nos quais os ganhos econômicos dos 20% mais pobres da população no governo Lula são comparáveis aos crescimentos econômicos da China, ou seja, os maiores do planeta na última década.
Uma composição que envolve Bolsa-Família, ações sociais, redução desemprego e informalização do trabalho, aumento do salário mínimo e diminuição de ítens da cesta básica e da construção civil teriam contribuído para isso.
Não discutirei nesta mensagem os métodos e a sustentabilidade destas ações de governo. No entanto, há um fator que é indiscutível: especialmente as camadas mais pobres da população querem ações públicas concretas, efetivas, que melhorem seu padrão de vida e possuam resultados rápidos.
Não por acaso, Chavez faz esse sucesso todo na Venezuela. Seja do modo que for, são indiscutíveis os impactos das ações populares dele em seu país. Se por um lado, temos o retorno de certos tipos de populismo na América Latina, por outro temos o enfrentamento de discursos e políticas predominantemente tecnocráticas, marca dos anos 90/2000, por exemplo.
Desenvolver ações concretas, de resultados evidentes e ganhos indiscutíveis é, sem dúvida um canal vital para uma ação política efetivamente transformadora. Que ações como estas continuem acontecendo, seja da esfera governamental ou não, conciliando a elas projetos éticos de transfgormação social.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Ciência e Política

Ocorreu na última 6ª feira (02/06/06) no Instituto Itaú Cultural (SP) o lançamento dos Cadernos da Ibero-América. Seu primeiro número entitula-se Prioridade ao Ensino de Ciências: uma decisão política, de Juan Carlos Tedesco.
Na oportunidade pude ouvir a fala de Tedesco, Vice-Ministro de Ciência e Tecnologia da Argentina e alguns pontos me chamaram a atenção para projetos que envolvam juventude e tecnologia.
O primeiro deles é a premência da questão científica para os tempos de hoje. É bem verdade que igualmente vitais são as discussões sobre saúde, comunicação, informação, artes, entre outros, mas perceber a tecnologia como foco faz-se central justamente quando entendida enquanto epistemologia, enquanto conhecimento que baliza, orienta, produz a técnica. Seu potencial inventivo, para além do convencional cria possibilidade de ganhos inimagináveis, bem como tem a possibilidade de perversões impercptíveis ao que está estabelecido.
O segundo deles é a parcepção do investimento em tecnologia enquanto opção política. Na sociedade do conhecimento (que envolve a informação, a criação, a arte, a técnica...) acessar a possibilidade de inventar é vital para a conquista e criação de espaços sociais, especialmente para grupos e comunidades normalmente marginalizados. Mais do que isso, pode significar a possibilidade de escolhas dessas popuolações, para além das pré-determinações do poder público ou programas privados de desenvolvimento.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Jovens Urbanos no Rio

Hoje ocorreu o lançamento do Programa Jovens Urbanos no Rio de Janeiro (eu participo da equipe técnica do Programa).
Foi realmente especial. Primeiro, pelo fato de a equipe ter conseguido realizar o lançamento, tarefa que já foi, pela própria equipe, visto com algo praticamente impossível. Fica a lição da superação.
Segundo, pelo público. O auditório do Senac Copacabana ficou lotado (havia mais de 60 pessoas, quando estimávamos 30 numa expectativa de sucesso) com pessoas de ONGs, sociedade civil e goveno.
Terceiro, pelas discussões. Os participantes s posicionaram de forma muito interessante, efetivamente debatendo com os responsáveis pelas falas, mostrando um potencial de participação e reflexão vitais para a ação social.
Quarto, pelos resultado. Os grupos de trabalho renderam até as 6 da tarde com muitas sugestões para o redesenho do Programa Joves Urbanos para a realidade do Rio de Janeiro, mostando efetiva vontade de participar.
Todos da equipe de São Paulo, incluindo o pessoal da Fundação Social estavam muito contentes e satisfeitos com a adesão.
Fica agora a responsabilidade de dar continuidade ao Programa lançado, às expetativas criadas, aos produtos já apontados. Acredito que as ações de gestão e sistematiação do novo texto serão vitais agora...e a premissa deve ser a de garantir, ao máximo o espírito de rede e a possibilidade d inventar, de verdadee sem medo, o inimagiável com o outro.
O dia de hoje mostrou que muitas vezes para atingir o inimaginável é preciso muito trabalho e , evidentemente, imaginação.