domingo, 30 de julho de 2006

A Cultura é uma Categoria ou Palavra não é Coisa que se Diga


A configuração urbana que temos faz com que a discussão do significado de cultura se torne cada vez mais intensa. Os tipos mais variados se misturam na metrópole e com eles, significados e fazeres diversos transitam, chocam-se, compõem-se.
Como dizia Manuela Carneiro da Cunha "cultura não é algo que anda por aí, que se pega, com o qual se conversa". Isso por que, na verdade, Cultura é uma categoria de entendimento, uma construção da ciência para que possamos apreender minimamente algo que vive, como tudo, disperso na vida cotidiana.
Sendo assim, do mesmo modo que "Sociedade", "Economia" e "Poder" (entre outras), a "Cultura" deve ser tida como algo imaterial, categoria do pensamento sujeita a métodos para sua investigação. Isso significa que cultura não é "coisa".
A tarefa do antropólogo deve ser portanto a do estudo cultural, sendo a investigação a partir de um ou outro grupo, apenas um instrumento para a compreensão da Cultura-Categoria (ou como dizia Maria Lúcia Montes, "os antropólogos não estudam índios, e sim estudam através dos índios").

(clique no título e leia o belo poema de Ricardo Silvestrin - Palavra não é Coisa que se Diga)

domingo, 23 de julho de 2006

Cortez e Guarnieri















Nesta última semana tivemos duas grandes perdas no teatro brasileiro: faleceram Raul Cortez e Gianfrancesco Guarnieri.
Eu já admirava o Raul Cortez quando fui trabalhar no CPT (Centro de Pesquisa Teatral) entre 1988 e 1990, até que ouvi Antuvnes Filho dar suas impressões sobre ele. Fora outros trabalhos juntos, Antunes comentava muito A Hora e a Vez de Augusto Matraga e elogiava não só sua postura pessoal, como também o imenso profisionalismo e o princípio de se aperfeiçoar sempre. Antunes sempre lembrava a facilidade com que Cortez fazia um exercício com o qual sofríamos muito, o desequilíbrio e o susto que deve quando percebeu que Cortez conseguira desenvolvê-lo logo nas primeiras instruções.
Guarnieri, por sua vez viveu o teatro em sua completude: dirigiu, atuou e escreveu (a inequecível Eles não usam black-tie) é dele. Para além disso tudo, Guarnieri era um militante e seu posicionamento político sempre foi explícito e coerente com sua ação artística.
Profissionalismo, ação política, competência artística: meus aplausos pela oportunidade de ter vivido a época destes grandes artistas!

domingo, 16 de julho de 2006

Coisas desses Tempos


Turbilhão de notícias e impressões, a sociedade contemporânea tem demonstrado uma imensa dificuldade em apresentar respostas às violações dos direitos mais elementares, como a vida e a paz.
Pensemos no caso da volta dos ataques do PCC a São Paulo. Na primeira onda de ataques, a reação paulistana foi de histeria individualizada (fuga em massa para as casas), o que. No limite, significa uma não resposta enquanto sociedade.Desta segunda vez a reação foi o silêncio, o aceitar conviver com a barbárie, uma opção pela convivência com a violência, vista como inevitável, coisas desses tempos.
Vejamos agora a reação da sociedade internacional diante do Estado Terrorista de Israel. Há quantos anos Israel simplesmente ignora as convenções internacionais mais elementares em sua política genocida no Oriente Médio? E qual a reação efetiva da sociedade internacional? O silêncio, a aceitação da violência de um Estado contra sociedades vizinhas ou contra um indefeso Líbano, no momento. O mesmo tem ocorrido há anos com palestinos, sírios e árabes em geral.
Não discuto que violências desse tipo são realmente coisas desses tempos. No entanto, é importante que nesses tempos exista a possibilidade de reação, de não aceitação de um ambiente de crescente banalização da violência e de redução efetiva do espaço de todos os tipos de minorias.
O relativismo, o particularismo, o mercantilismo e a informacionalização a qualquer custo têm transformado a violência em dado e não mais em condição de vida. Sua banalização parece só acabar quando ela, física e efetivamente bate à nossa porta. È sentida sempre como perda individual, e não mais coletiva, muito menos política.
Os agentes dessa violência (certos Estados, movimentos, grupos, corporações) fazem desta postura o principal elemento de ampliação da restrição e privatização do direito à vida, determinada pela possibilidade de saber ou não se esconder nestas selvas contemporâneas.

A próxima postagem ocorrerá somente no próximo domingo (23/07). Nesta semana estarei no Rio, vom o Programa Jovens Urbanos.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

O Timor Segundo Boaventura

No dia 06/07/06 saiu na Carta Maior (versão digital da Carta Capital) um artigo do Boaventura de Souza Santos a respeito do Timor Leste. Copiei alguns fragmentos que merecem reflexão (a íntegra da matéria pode ser acessada clicando no Título desta postagem).

Como é que um país, que ainda no final do ano passado teve eleições municipais, consideradas por todos os observadores internacionais como livres, pacíficas e justas, pode estar mergulhado numa crise de governabilidade?

A interferência da Austrália na fabricação da crise está agora bem documentada (...). Documentos de política estratégica australiana de 2002 revelam a importância de Timor Leste para a consolidação da posição regional da Austrália (...). Os interesses são econômicos (reservas de petróleo e gás natural calculadas em trinta mil milhões de dólares) e geomilitares (controlar rotas marítimas de águas profundas e travar a emergência do rival regional: a China)

O petróleo e o gás natural têm sido a desgraça dos países pobres (que o digam a Bolívia, o Iraque, a Nigéria ou Angola)

O Pacífico do Sul é hoje para a Austrália o que a América Latina tem sido para os EUA há quase duzentos anos. Ousou diversificar as suas relações internacionais (...) Por tudo isto, Alkatiri tornou-se um alvo a abater. O fato de se tratar de um governante legitimamente eleito (...). É isso que está em curso.

(...) as organizações de direitos humanos, que tão alto ergueram a voz em defesa da democracia de Timor, tenham agora uma missão muito concreta a cumprir: conseguir bons advogados para Mari Alkatiri e financiar as despesas com a sua defesa

Timor não é o Haiti dos australianos, mas, se o vier a ser, a culpa não será dos timorenses. Uma coisa parece certa, Timor é a primeira vítima da nova guerra fria, apenas emergente, entre os EUA e a China. O sofrimento vai continuar.

domingo, 2 de julho de 2006

O Belo é Irresistível


Hoje foi o dia em que o Brasil foi eliminado pela França na Copa do Mundo 2006. Não fiquei triste, não lamentei. Meu pacto continua sendo com a beleza: por isso estou reconfortado pela beleza de Zidane e felicitando a justiça da eliminação do Brasil que encarcerou o belo na ilusão de que os deuses aceitam esse acinte numa boa.
Estou saindo de férias, vou passar uns dias em São Roque. Retorno a Sampa no dia 08/07 e volto a postar por aqui em 12/07. Recarregando baterias para reconhecer e criar o belo, tentando fazer dele algo cada vez mais irresistível.