sábado, 30 de setembro de 2006

Nem Lula, nem Alckmin


Por que não o Lula?
Nessas eleições votarei 3 vezes no PCO (partido da Causa Operária). É um partido de extrema esquerda, dissidente do PT na gestão de Luísa Erundina. Sua verba de campanha foi R$ 100.000,00 e foi impugnado pela justiça eleitoral. Vou nessa já que, para mim, a Heloísa Helena e o PSOL não representam um pensamento genuinamente de esquerda e sim de um moralismo católico.
Minha decisão nasceu da dificuldade de votar em Lula neste primeiro turno. Todos sabemos dos problemas que teria em relação às tentativas de desestabilização de seu governo e francamente, olhando para o que ocorreu nestes últimos 5 anos, eu esperava coisa pior.
A primeira metade do governo Lula foi de relativa tranqüilidade em relação às ações da oposição, complicando mais claramente no último ano e meio após as denúncias de mensalão feitas por Roberto Jefferson.
Por sorte, Lula teve um fragilizado e mesquinho PSDB contra ele. A tibieza dos tucanos fez com que não fossem ao limite e iniciassem um processo de impeachment. A imprensa, especialmente o sistema Globo foram bastante benevolentes com Lula, especialmente quando comparamos ao trato que o agora presidente sempre teve da emissora.
Isso significa que houveram condições políticas nestes 5 anos para a realização de um governo mais arrojado. A preocupação inicial de Lula foi garantir conforto à classe baixa e alta. A baixa, através de políticas compensatórias de renda (Bolsa Família e outras formas de incentivo social) e a classe alta pela política dispensada especialmente aos bancos. Mesmo os não-banqueiros tiveram significativos ganhos via especulação. A classe média, inimiga histórica de Lula, certamente foi a que mais teve problemas. E o presidente também não fez maiores esforços por contentá-la.
Faltou, no entanto arrojo em ações de mudanças estruturais. Uma ação de política mais afirmativa e menos complacente na América Latina seria importante. Ações mais efetivas na educação também (a construção de novas universidades federais, a tentativa de aprovação do FUNDEB e o PROUNI são ações importantes, embora tímidas).
Em termos econômicos, também fez falta uma política mais efetiva de incremento à produção, bem como estratégias mais sustentáveis de distribuição de renda.
Isso significa que considerei, embora aprove sua cautela com questões especialmente delicadas, demasiadamente tímido o governo de Lula.
Paralelamente a isso, evidentemente, temos denúncias muito sérias de corrupção. Certamente há muita pirotecnia nisso tudo, muito oportunismo. Ao mesmo tempo muitas evidências não deixam dúvidas de que o governo perdeu o controle dos esquemas de aliciação e cooptação e a corrupção no governo pareceu que ganhou dimensões orgânicas e passou a ter um sentido em si. A perda do staff político (Gushiken, Dirceu, Genoíno,...) isolou Lula e tirou ainda mais sua capacidade de controle destes procedimentos.

Por que não Alkmin?
Para quem ficou 12 anos no maior estado da América do Sul (São Paulo seria o 20º PIB do mundo, caso fosse independente), Alckmin fez muito pouco. Por 7 anos esteve na sombra de Covas e somente graças a ele conseguiu impulso em sua carreira política. A educação segue com resultados patéticos e a indústria perde espaço para outros estados. Os únicos setores que ganharam espaço o fizeram graças a processos de privatização (estardas, por exemplo).
Em termos de segurança, o resultado de 12 anos de tucanato é uma tragédia: megarrebeliões, o estabelecimento do PCC como maior facção criminosa organizada da América Latina.
Como não bastasse, Alckmin representa a direita do PSBD, algo que faz um limite muito sutil com o PFL. Ligado à Opus Dei, defende ações demasiadamente conservadoras e moralistas, incompatíveis para um presidente de um país diverso como Brasil.
Quanto ao PSDB as estratégias usadas no governo Lula nos mostram sua inviabilidade enquanto projeto político. Desarticulado enquanto oposição ao governo Lula, começou a pensar nas eleições no início de 2005, quando conseguiram fazer explodir, via Roberto Jefferson, o escândalo do mensalão. Ações de chantagem e covardia foram inúmeras: uso de partidos nanicos e especialmente do PFL para “sujar as mãos” em ações pelo PSDB planejadas. À medida em que as denúncias avançaram, começaram a resvalar nele próprio ao serem levantadas as conexões PSDM/MG – Valério via Aécio Neves, Azeredo (presidente do partido) e o evidente uso do esquema para o financiamento da campanha de FHC e Serra nos dois últimos pleitos.
Foi curioso o papel covarde do partido a partir daí. Os indício exigiam uma abertura de pedido de impeachment, a sociedade exigia, mas o PSDB na cumpriu com sua missão cívica e vacilou.
O preço desta covardia é o resultado de momento nas pesquisas eleitorais, com Lula devendo ganhar já no 1º turno. As divergências internas deixaram evidentes que o compromisso tucano é somente com o “estar no poder” e não é exatamente disso que o país não precisa.

sábado, 9 de setembro de 2006

Digitais Tucanas


Quase um ano e meio depois, a tucanagem assume suas impressões digitais no mensalão (leiam trecho abaixo retirado de uma carta de FFHHCC publicada no site do partido, no popular bairro de Higienópolis). Dá para entender por que a população continua optando pelo Lula:
1 - ele, ao menos, tem sua cara (ou interpreta melhor esse papel);
2 - não há firmeza, propostas nem seriedade na oposição (assim como no governo);
3 - ficou evidente que as denúncias de mensalão, embora verdadeiras, eram puramente eleitoreiras e não tinham NENHUM compromisso com o país.
4 - o PSDB abusou de sua covardia ao usar micro partidos e em especial seu partido-jagunço (o PFL) ao não insistir nas denúncias de mensalão e propor o impeachment (a carta abaixo mostra que um dos motivos foi rabo preso mesmo), coisa que o PT, de um jeito ou de outro teve coragem no caso de Collor.

E é pelas surpresas (falta de energia de um lado, falta de compostura do outro) que o governo Lula nos ofereceu e pela mesquinhez da oposição (mistura de falta de propostas com mesquinhez política) que os dois lados saem desmoralizados de vez nessa eleição.

Segue trecho de carta de FFHHCC publicada no site do PSDB:

"Pois bem, nós do PSDB não fomos suficientemente firmes na denúncia política de todo esse descalabro no momento adequado. Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar.

É verdade que também somos responsáveis pelo que hoje se vê: a cada dia mais corrupção; a cada dia, menor reação. Erramos no início, quando quisemos tapar o sol com a peneira no caso do senador Azeredo. Compreendo as razões: ele é pessoalmente decente; tudo se passou durante a campanha para sua reeleição como governador, que afinal ele perdeu. Mesmo assim, calamos muito tempo e sequer dissemos o que sabemos: entre os responsáveis pelas finanças de campanha do então governador estava seu vice, hoje ministro do Presidente Lula. Nem isso dissemos com força! Mas não por isso podemos calar diante do descalabro. Ainda que o eleitorado não nos acompanhe neste momento, deixaremos as marcas de nosso estilo, de nossas atitudes, para calçar um futuro melhor para o país."

Fonte: http://www.psdb.org.br/noticias.asp?id=25740

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

O Grito de Volta


O Grito, de Edward Munch foi recuperada. Roubada desde de 2004, a obra reapareceu após mais de dois anos de investigações por parte do FBI.
Vi a obra de perto em uma das Bienais de São Paulo. E lembro bem de minha sensação. Estava diante de um mito, de um ícone, de um arquétipo (mais forte que isso só quando vi a exposição de Tarsila do Amatal, mas continuemos falando de humanos...)que me permitiu minutos de isoamento de um mundo em que estava, embarcando um pouco para outra dimensão.
É interessante que sempre tenho vontade de tocar os quadros, mas dessa vez não. Foi possível tocar O Grito sem tocá-lo, chegar perto mesmo atrás de ua linha amarela. O quadro é muito forte, de expressões profundas, desfigurações intensas: nenhum nome poderia ser mais apropriado. Mais o que o retrato de uam época (o Entre-Guerras), a obra revela o profundo descompasso do homem consigo mesmo, marca máxima de sua humanidade.