sábado, 28 de outubro de 2006

AGORA É LULA


Caro Lula,

Escrevo esta carta para declarar meu voto em você neste 2º turno. No 1º turno votei no candidato mais à esquerda que encontrei, o Rui Costa Pimenta do PCO. Ele estava tão à esquerda que, apesar de ser a menor declaração de gasto de campanha, teve as contas impugnadas pelo TSE, acredita?
Às vésperas do 1º turno fiz minha declaração de voto e listei os motivos de não optar por você. Eles basicamente foram dois: minha sincera descrença em sua não-participação em negociatas políticas visando sua sustentabilidade no poder e o fato de não ter assumido de verdade um governo de esquerda, numa oportunidade histórica, talvez única, de um candidato efetivamente popular estar no poder. A verdade é que acho que você fez mal este papel.
Acontece que o 2º turno exige decisão e temos 3 possibilidades: você, Alckmin e o voto nulo. Ao mesmo tempo o nulo não tem como virar presidente, o que significa que a coisa está entre você e o famoso Picolé de Chuchu.
Eticamente falando as diferenças entre seu agrupamento político e o de Alckmin são mínimas. Uso do estado para benefícios particulares (sejam eles financeiros ou não), ações apenas táticas (raramente estratégicas) e uma vaga, vaguíssima noção de ação política transformadora. Só isso já faz da opção entre você e Alckmin algo bastante preocupante.
Acontece que a história de parte do movimento que você representa tem uma substância que não víamos desde Vargas. Você é um mito vivo que encarna, queiramos ou não, um tipo ideal (no sentido weberiano mesmo) de brasileiro. Algumas ações de governo suas comprovam isso. Sua sensibilidade social (tão pouco utilizada no primeiro mandato) é rara e capaz de efetivamente transformar a sociedade brasileira.
Caso você não se eleja, o poder ficará com os tucanos através de Geraldo Alckmin. Bem sabemos o que este grupo político representa: o poder paulista, o poder da arrogância, o poder da riqueza, o poder da segregação, o poder do descompromisso com os pobres. Não por acaso o candidato tucano só fala de São Paulo: o Brasil para ele termina entre Vassouras e Rezende.
Para piorar, o moço é da direita do PSDB, que já é de direita. A inspiração religiosa e o discurso moralista-fascista dele me assustam muito e representa não só a força de uma elite rançosa como a certeza do descaso pela justiça social.
Isso significa que minha opção por você, na verdade, é ética, embora esta tenha tantas vezes faltado em seu governo (paradoxal, não?). Ética é minha escolha pelo direito do povo brasileiro a ter um mito com sua cara (seria importante que você fizesse mais jus a ela). Ética é minha escolha pelo resultado de um movimento político popular (embora profundamente capturado) que precisa de força e fôlego. Ética é minha escolha por quem tem alguma noção do que é o povo pobre. Ética é minha opção de votar em você e exigir com cada vez mais força um governo que seja efetivamente de esquerda, coisa que certamente Alckmin nunca terá condições de fazer.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pena que seja assim, sem opções, sem ações que realmente atuem na causa do problema, e não apenas nas suas consequências...É aquele papo da falha do sistema (todos).


Ah, gostei da sua foto, hehe

Abraço, Eli

Anônimo disse...

Bacana demais sua visão e posição Edson.
Embora não tenha votado em nenhum dos dois - pelas imperdoáveis falhas éticas e programáticas - respeito muito sua posição.

No primeiro turno votei no Cristóvão, no segundo fiquei órfão: não tinha como aprovar o governo lula, nem como solicitar a volta dos tucanos.
Embora tb pense que o lula, no ponteiro da história que estamos, seja melhor para o Brasil do que o geraldo, decidi nunca mais votar no "menos ruim".
Me convenci de que meu voto vale muito e que para neguinho "levar" meu voto, terá que ser mais que apenas o "menos ruim".
De agora (2006) em diante só voto em quem tiver a "ficha minimamente limpa" e que tenha no discurso tanto ou mais tesão por educação e cultura do que em números de importação e exportação, ou seja, vai ser difícil eu não votar NULO nos próximos anos - Oxalá eu esteja errado.

Esperemos que o lula "se libere" da bandidagem a sua volta e que pare com esse discurso bobo de reinventar o Brasil a cada 4 anos: "nunca nesse país, depois de quinhentos anos, pela primeira vez no Brasil", etc - como se houvessem soluções mágicas e inétidas.

Os ouvidos do Brasil não merecem isso, como tb não merecem o discurso apocalíptico, sem sabor e insensível da tucanada, tenhamos fé e esperança que eles tb parem com esse discurso bobo de campanha e façam política séria e ética.

Bola pra frente, ... voltemos a profissão "esperança".
Nós?
Nós continuaremos trabalhando e pagando impostos.

abração (de fé),
faoza

Anônimo disse...

Eu infelizmente tive que votar no Lula no segundo turno, mas como bem disse vc...era a melhor opção...dentro do inferno é melhor ser amigo do capeta do que ser contra ele.