domingo, 5 de abril de 2009

Flores Azuis

Acabei de ler o livro Flores Azuis, de Carola Saavedra.

Comprei o livro pela trama, não conhecia a autora. Achei a trama muito interessante: um triângulo amoroso formado por cartas entregues a destinatários errados. Ao menos era isso que estava na crítica do Estadão.
Pois bem, não é muito isso o livro. Para mim esse triângulo não existe, nunca existiu. Basicamente o enredo é o seguinte: a separação de dois casais que não se conhecem dispara reações muito diferentes em dois personagens, um de cada ex-casal, que são o foco da trama: a personagem “A” e o personagem “Marcos”.

“A” passa a escrever cartas anônimas ao ex-marido tentando explicar e entender o que motivou a separação, uma iniciativa dele. Marcos, por sua vez, é o recebedor destas cartas, que são endereçadas ao endereço do apartamento que passou a morar após a separação.

Como “A” nunca escreve o endereço no envelope e nem deixa seu nome completo disponível, Marcos não tem como localizá-la, mas fica crescentemente interessado em conhecer quem escreve estas cartas. Em muito parece que são para ele, mas não são (será?). Ao mesmo tempo as cartas dizem coisas que ele gostaria de ouvir, talvez lá esteja a mulher que procura (será?).

E assim segue a trama, com capítulos que oscilam entre as cartas na íntegra e a leitura, seguida da vida cotidiana de Marcos. Este é o enredo.

Quanto à obra particularmente mais uma vez (o mesmo que sinto em Amoz Óz) fica aquela sensação de que a autora não teve a coragem de entrar na trama de frente, sem medir consequencias. O texto é demasiadamente velado e cuidadoso. O estado de “A” e, a partir da metade do livro, de Marcos também não permitem mais esses cuidados. Falta um arroubo de verdade de um dos dois.

É provável que esse sempre “não chegar” tenha a ver exatamente com uma crítica sutil da autora ao modo como muitos relacionamentos se desenvolvem, com a falta de um mergulhar na trama da vida a dois em nome da idealização de um parceiro ou parceira ideal, que na verdade não existe e traz como resultado a solidão. Pode ser, mas faltam elementos para isso na obra.

O que mais gostei no livro, no entanto, é o modo como Carola Saavedra conduz o modo de pensar de Marcos, mostrando conhecer muito a alma masculina. Isso assusta em alguns momentos. Poucas vezes ouvi uma mulher fazendo isso tão bem. Das poucas vezes que ouvi, me apaixonei. Ainda bem que Carola Saavedra talvez seja uma espécie de “A” para mim.

O livro – Flores Azuis
A autora – Carola Saavedra
A editora – Companhia das Letras

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